Agendas apertadas e prazos curtos nos levam a aproveitar as viagens para trabalhar no notebook. Mas nunca se sabe quem realmente está sentado na poltrona ao lado no avião. Seria o seu concorrente?
Nos tempos do sonho dourado das empresas pontocom, um amigo investidor tinha como diversão favorita vestir-se à “paisana” - bermurda, boné, barba por fazer - para almoçar nos restaurantes da Vila Olímpia, em São Paulo (para aqueles não familiarizados, este bairro de meia dúzia de ruas e trânsito caótico era o endereço de nove entre dez iniciativas de internet à época).
Nada mais produtivo em termos de novas idéias e “inteligência competitiva”, como dizia. Era só sentar, preparar-se para um longo almoço e esperar as vítimas. Grandes idéias eram rabiscadas e discutidas nas mesas ao lado e os vizinhos não davam a mínima para aquele jovem de estilo novo-hippie. Meu amigo, por sua vez, usava a audição e a memória aguçadas para pescar as melhores informações e voltar para o trabalho com as últimas novidades. Ele não diz quando ganhou ou deixou de perder prestando atenção na conversa alheia, mas quem ouve os detalhes das histórias pode seguramente assumir que não foi pouco.
E não é que funciona mesmo…
Hoje percebo que as salas de espera de aeroportos e os próprios vôos costumam ser terrenos férteis para “ações de inteligência competitiva”, como definiria o meu amigo. As agendas apertadas e as viagens constantes fazem com que os executivos dos mais diversos segmentos sintam que estes locais são uma extensão “natural” de seus escritórios. E aí está o problema…
Durante anos trabalhei para empresas que praticavam um “dress code” nas viagens de negócios, que exigiam sempre um traje mais formal. Mesmo que houvesse espaço na agenda para uma troca de roupa, o “obrigatório” era que a viagem fosse feita ao menos com um traje que “representasse” a empresa.
Com blazer, terno e gravata, o máximo que ouvi de pessoas como eu nas salas de espera e durante os vôos foram bravatas e inconfidências de cunho pouco profissional.
Por outro lado, desde que me associei à Simples Consultoria, resolvi relaxar um pouco com relação às viagens de negócios. Costumo viajar de maneira informal e (quase) sempre lendo algum texto que não tem a ver com negócios (ou ao menos com os meus negócios; a leitura preferida nessas ocasiões são as seções de esportes de jornais locais). Esta mudança de atitude trouxe dois benefícios: as viagens se tornaram uma oportunidade para realmente descansar e, pasmem, aprender mais sobre a concorrência. A roupa faz o monge.
É impressionante o quanto as pessoas se sentem mais à vontade para falar sobre clientes, concorrentes, estratégias, propostas e trabalho quando olham em volta e vêem apenas pessoas à “paisana” ou com jeito de turista. Eu mesmo estou nesta lista: quantas vezes trabalhei em salas de espera, preparei apresentações e propostas, escrevi e-mails, fiz ligações de negócios e reli contratos. Apenas porque as pessoas ao meu redor não pareciam ser “concorrentes”.
Agora que mudei de posição e sou o turista da cena, colho frutos dos descuidos de “concorrentes”. Escrevo este texto em um vôo São Paulo - Brasília e na minha frente estão dois executivos de uma empresa concorrente. Na verdade é uma honra para nós que eles nos vejam como concorrentes, dado que estamos para eles assim como o Fernando Alonso está para o Michael Schumacher - eu disse que lia o caderno de esportes.
Enquanto escrevo este texto, os executivos revisam a apresentação que farão a um cliente, provavelmente amanhã, pois agora é uma noite de domingo. A apresentação pode (ou não) conter dados sigilosos do cliente, como estratégias, iniciativas ou resultados de um processo de consultoria.
O interessante é que, ao entrarem no avião, estes dois executivos fizeram uma rápida sondagem à volta (assim como eu sempre faço) e não detectaram nenhuma ameaça, principalmente naquele “hippie paulistano” (cabelo comprido, barba por fazer, óculos escuros, bermuda, camisa polo e boné surrado). E decidiram “adiantar” o serviço.
Sem nenhuma informação importante
Admito que não vou tirar nenhum proveito desta situação específica, além de bravatear com uma amiga que trabalha para este concorrente, ou escrever este texto. Por outro lado, esta situação é um claro sinal de alerta a todos nós que acreditamos que podemos utilizar todo e qualquer local como extensão de nossos escritórios.
Agora preciso parar, pois ao meu lado tem este menino de uns oito ou nove anos lendo atentamente tudo o que escrevo. Sabe-se lá se ele não é da concorrência. [Webinsider]
Nos tempos do sonho dourado das empresas pontocom, um amigo investidor tinha como diversão favorita vestir-se à “paisana” - bermurda, boné, barba por fazer - para almoçar nos restaurantes da Vila Olímpia, em São Paulo (para aqueles não familiarizados, este bairro de meia dúzia de ruas e trânsito caótico era o endereço de nove entre dez iniciativas de internet à época).
Nada mais produtivo em termos de novas idéias e “inteligência competitiva”, como dizia. Era só sentar, preparar-se para um longo almoço e esperar as vítimas. Grandes idéias eram rabiscadas e discutidas nas mesas ao lado e os vizinhos não davam a mínima para aquele jovem de estilo novo-hippie. Meu amigo, por sua vez, usava a audição e a memória aguçadas para pescar as melhores informações e voltar para o trabalho com as últimas novidades. Ele não diz quando ganhou ou deixou de perder prestando atenção na conversa alheia, mas quem ouve os detalhes das histórias pode seguramente assumir que não foi pouco.
E não é que funciona mesmo…
Hoje percebo que as salas de espera de aeroportos e os próprios vôos costumam ser terrenos férteis para “ações de inteligência competitiva”, como definiria o meu amigo. As agendas apertadas e as viagens constantes fazem com que os executivos dos mais diversos segmentos sintam que estes locais são uma extensão “natural” de seus escritórios. E aí está o problema…
Durante anos trabalhei para empresas que praticavam um “dress code” nas viagens de negócios, que exigiam sempre um traje mais formal. Mesmo que houvesse espaço na agenda para uma troca de roupa, o “obrigatório” era que a viagem fosse feita ao menos com um traje que “representasse” a empresa.
Com blazer, terno e gravata, o máximo que ouvi de pessoas como eu nas salas de espera e durante os vôos foram bravatas e inconfidências de cunho pouco profissional.
Por outro lado, desde que me associei à Simples Consultoria, resolvi relaxar um pouco com relação às viagens de negócios. Costumo viajar de maneira informal e (quase) sempre lendo algum texto que não tem a ver com negócios (ou ao menos com os meus negócios; a leitura preferida nessas ocasiões são as seções de esportes de jornais locais). Esta mudança de atitude trouxe dois benefícios: as viagens se tornaram uma oportunidade para realmente descansar e, pasmem, aprender mais sobre a concorrência. A roupa faz o monge.
É impressionante o quanto as pessoas se sentem mais à vontade para falar sobre clientes, concorrentes, estratégias, propostas e trabalho quando olham em volta e vêem apenas pessoas à “paisana” ou com jeito de turista. Eu mesmo estou nesta lista: quantas vezes trabalhei em salas de espera, preparei apresentações e propostas, escrevi e-mails, fiz ligações de negócios e reli contratos. Apenas porque as pessoas ao meu redor não pareciam ser “concorrentes”.
Agora que mudei de posição e sou o turista da cena, colho frutos dos descuidos de “concorrentes”. Escrevo este texto em um vôo São Paulo - Brasília e na minha frente estão dois executivos de uma empresa concorrente. Na verdade é uma honra para nós que eles nos vejam como concorrentes, dado que estamos para eles assim como o Fernando Alonso está para o Michael Schumacher - eu disse que lia o caderno de esportes.
Enquanto escrevo este texto, os executivos revisam a apresentação que farão a um cliente, provavelmente amanhã, pois agora é uma noite de domingo. A apresentação pode (ou não) conter dados sigilosos do cliente, como estratégias, iniciativas ou resultados de um processo de consultoria.
O interessante é que, ao entrarem no avião, estes dois executivos fizeram uma rápida sondagem à volta (assim como eu sempre faço) e não detectaram nenhuma ameaça, principalmente naquele “hippie paulistano” (cabelo comprido, barba por fazer, óculos escuros, bermuda, camisa polo e boné surrado). E decidiram “adiantar” o serviço.
Sem nenhuma informação importante
Admito que não vou tirar nenhum proveito desta situação específica, além de bravatear com uma amiga que trabalha para este concorrente, ou escrever este texto. Por outro lado, esta situação é um claro sinal de alerta a todos nós que acreditamos que podemos utilizar todo e qualquer local como extensão de nossos escritórios.
Agora preciso parar, pois ao meu lado tem este menino de uns oito ou nove anos lendo atentamente tudo o que escrevo. Sabe-se lá se ele não é da concorrência. [Webinsider]
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